A necessidade de se conhecer com precisão o nível de contaminação dos mapas da RCF pela contribuição da Galáxia tem propriciado o desenvolvimento de técnicas alternativas de descontaminação. Afinal, o sucesso depende do entendimento do padrão espacial e espectral da emissão Galáctica. A discussão a seguir tem por objetivo acrescentar alguns detalhes a este questionamento básico, dos quais a escala angular das estruturas nos mapas é de fundamental importância para a interpretação cosmológica das anisotropias.
Na sua segunda técnica de separação dos componentes Galácticos e
cósmicos Bennett e seus colaboradores (B92) puderam minimizar
uma função de mérito que lhes permitiu extrair dois mapas (um da
emissão livre-livre e outro do sinal cósmico) em 53GHz. Nesta
técnica de ajuste a função
somava sobre as três freqüências do DMR e sobre todos os pixels as
diferenças entre os mapas das temperaturas residuais e as
contribuições livre-livre e cósmica calculadas a partir de seus índices
espectrais conhecidos, tal que
A suposição implícita de que os mapas em 408MHz e
1420MHz são mapas da emissão Galáctica exclusivamente produzida
pelo mecanismo de radiação síncrotron, foi verificada recalculando-se o
modelo do componente síncrotron. Para tanto utilizou-se o mapa resultante
do componente livre-livre para descontaminar os mapas de baixas
freqüências da Galáxia. Houve apenas uma modificação de K
no sinal rms do quadrupolo do componente síncrotron (
K
para
em 53GHz). Porém, o
quadrupolo cósmico é insensível a este efeito porque ele implica numa
correção com sinal oposto no quadrupolo do componente livre-livre.
Uma variante da técnica de ajuste consiste em explorar o conjunto de
medidas obtidas em freqüências diferentes para extrair o sinal cósmico
mediante uma combinação linear de tais medidas. Postulam-se,
então, condições de contorno para os coeficientes da solução de forma a
moldar o resultado desejado. Na sua terceira técnica, o grupo de Bennett
(B92) dispensou os modelos Galácticos e se baseou inteiramente nos
mapas do DMR para construir uma solução favorável.
Para tanto supuseram: (a) que a combinação linear dos
três mapas fosse nula no Plano Galáctico externo ( e
); (b) que a contribuição da emissão livre-livre se anulasse na
combinação resultante; e (c) que o resultado fosse de natureza planckiana.
Obviamente, o item (a) estabelece um critério de ponderação para cancelar
mutuamente os componentes síncrotron e de poeira, onde eles dominam a
emissão Galáctica. Já o item (b) remove o sinal Galáctico residual
(emissão livre-livre) ponderando os coeficientes pelos fatores
da Equação (19); e o item (c) identifica um espectro de corpo
negro com o resultado da combinação linear. A extração do sinal cósmico
é consistente com o obtido na seção 3.2.3.
O garantia de que a subtração da emissão Galáctica represente só um
fator de precisão
nas medidas da RCF, que não compromete a realidade das conclusões
cosmológicas, está diretamente relacionada com a escala angular das
medidas. Este é o caso do experimento DMR, cujo resultado atribui a
anisotropia de quadrupolo a flutuações na temperatura da RCF numa escala
de 7. Mas o significado deste resultado para o futuro da Cosmologia
implica num refinamento experimental que permita detectar anisotropias em
escalas menores, nas quais certamente as previsões das teorias de formação
de
estruturas oferecem um confronto mais excitante com as observações.
Porém, o problema da descontaminação se torna mais ambíguo e, como
veremos a seguir, de certa forma invalida um tratamento direto.