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Os astros são importantes no nosso dia-a-dia?

Fui convidado, em 2005, a participar do ciclo de palestras organizado pelo Observatório do Valongo, intitulado "Astronomia para Poetas", que existe até hoje. A palestra ministrada lá pode ser encontrada aqui e grande parte das referências utilizadas pode ser encontrada no site http://www.astrology-and-science.com.

Essa apresentação PowerPoint deu origem a um artigo publicado na revista Ciência Hoje (vol 43, Fevereiro de 2009), intitulado "Astronomia versus Astrologia: o movimento dos astros influencia nosso dia-a-dia?". Boa parte dos argumentos já foi apresentado em outro artigo, publicado no Boletim da Sociedade Astronômica Brasileira, intitulado "Seu kit de defesa contra a astrologia", traduzido pelo Dr. João Braga e por mim, com permissão da revista "Sky & Telescope".

O texto abaixo, publicado no jornal "O Valeparaibano", em 2006, trata um pouco do debate que levou à exclusão de Plutão da classe dos planetas, comparando a visão dos astronomos e dos astrólogos.

Depois da enorme discussão sobre a situação de Plutão, ocorrida no mês passado e tema de artigo no jornal "O 'Valeparaibano" da semana passada, tenho refletido a influência dos objetos celestes no dia-a-dia do ser humano. Conversando, na semana passada (22/09/2006), com alunos de uma escola de ensino fundamental aqui em São José dos Campos, perguntei a eles se o fato de Plutão virar "anão" alterava alguma coisa para Plutão ou para eles, alunos. A resposta, praticamente unânime, foi "NÃO". A grande maioria dos alunos tinha consciência de que o objeto continuava na mesma órbita em que sempre esteve, com a mesma massa, a mesma composição química e tudo o mais. A única mudança era na classificação que os astrônomos fazem para uma melhor compreensão do que acontece no Universo.

Diversos astrólogos consultados sobre o tema, na TV e em entrevistas escritas, disseram a mesma coisa. Para eles, também nada mudava em relação ao significado de Plutão no contexto astrológico. Porém, os significados das afirmações de astrônomos e astrólogos são muito diferentes. Para astrônomos, o que não varia são quantidades objetivas como órbita, massa, densidade e composição química. Para astrólogos, símbolos associados a Plutão, tais como morte, regeneração, sexo, evolução, degeneração e regeneração é que permanecem os mesmos.

Ao estudar um mesmo objeto, astrônomos e astrólogos vêem coisas completamente distintas. Por exemplo, astrônomos no Brasil e na China, concordam sobre as propriedades físicas de Plutão, independente do contexto abordado. Já astrólogos associam a Plutão as características do parágrafo anterior, mas dizem que essas propriedades podem ser ou não potencializadas pela presença de um outro planeta. Por exemplo, o contato próximo (a muitas centenas de milhões de quilômetros um do outro) entre Saturno e Plutão traz um toque sinistro – seja lá o que isso signifique – à personalidade de quem nasce sobre essa influência. No caso de Urano e Plutão, o contato próximo (a algumas centenas de milhões de quilômetros um do outro) sugere que pessoas com essa configuração astrológica terão tendências explosivas e revolucionárias.

Além disso, não existe um acordo entre diferentes astrólogos sobre a validade desse significado para todas as pessoas que nasceram nessa condição astrológica, nem sobre quais outros objetos devem ser incluídos na confecção de um horóscopo para chegar, de maneira independente, às conclusões mencionadas acima. Para exemplificar a diversidade de critérios, Plutão só passou a ser incluído nos horóscopos a partir de 1930, quando foi descoberto por Clyde Tombaugh. Horóscopos só poderiam incluir Urano, a partir de 1781, e Netuno a partir de 1846, datas de suas descobertas. E o que dizer dos horóscopos – certos ou errados – feitos anteriormente, desde a época dos babilônios? Eles incluíam o Sol, a Lua e os 5 planetas conhecidos: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Como eles poderiam estar certos, se estavam incompletos? E se estavam errados, seria devido a não-consideração dos três planetas externos? E os horóscopos feitos entre 1781 e 1930, intervalo entre as descobertas de Urano e Plutão?

Do ponto de vista astronômico, as influências dos astros no nosso dia-a-dia não são objeto de controvérsia, nem mesmo entre o público leigo mais bem informado. Por exemplo, as marés causadas pela atração gravitacional conjunta da Lua e do Sol influenciam horários de pesca e movimentação nos portos. Variações na produção de energia do Sol podem gerar tempestades magnéticas ou explosões solares, freqüentemente observadas, com influência direta nas telecomunicações e sistemas de produção de energia. O impacto de um asteróide de alguns quilômetros de diâmetro em qualquer lugar da Terra seria uma catástrofe para todas as formas de vida na Terra, embora seja um evento bem mais raro. Se formos procurar vizinhos cósmicos mais próximos, podemos pensar na influência da explosão de uma supernova próxima ao Sol, evento ainda mais raro que os três mencionados anteriormente. A quantidade de energia liberada provavelmente esterilizaria a superfície da Terra.

Ao se olhar para o céu, pode-se divagar sobre possíveis influências simbólicas dos planetas mais próximos e de constelações na vida e eventos ligados à raça humana. Pode-se também divagar sobre a real importância de alguns dos efeitos físicos conhecidos mencionados acima. O que não se pode perder de vista é que as associações astrológicas simbólicas não causam nenhum efeito físico mensurável e dependem da interpretação de outros para conectá-las com nossa própria vida. Já os eventos astronômicos não dependem de qualquer interpretação para afetar, em alguns casos de maneira dramática, nosso dia-a-dia. Eles são também facilmente verificáveis e, na maior parte dos casos, compreensíveis para o público leigo. Naturalmente, escolher a quem dar importância ou crédito é uma questão puramente pessoal, embora os fenômenos astronômicos aconteçam independentemente da nossa escolha.




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Última atualização: Setembro de 2021