Cada tipo de instrumento tem uma
espécie de "assinatura", um conjunto de
características sonoras associado que, embora possa
parecer subjetivo, tem uma descrição matemática
extremamente precisa. Anteriormente comentamos que o som pode
ser representado pela soma de diversas ondas individuais, que
chamamos de componentes de Fourier. O que diferencia um
instrumento de outro são as amplitudes e a duração
de cada um dos harmônicos presentes no som resultante; a
esse conjunto de características chamamos timbre.
A altura de um som está ligada à
intensidade com que ele é emitido, ou seja, ao volume
sonoro deste som. Em termos físicos, a altura está
ligada à amplitude da onda sonora gerada pela vibração
de um determinado instrumento ou material. Quanto maior a
amplitude da onda, maior é a quantidade de energia que
ela carrega, consequentemente, maior é o seu volume.
Entretanto, a altura pode ser também
tratada como a "afinação" de um som.
Ela é um atributo do sistema auditivo humano a partir do
qual sons quaisquer podem ser classificados em uma ordem que
vai do mais baixo ao mais alto, como numa escala de notas
musicais. A relação entre a altura e a afinação
está ligada à freqüência de vibração
do objeto que gerou esse som.
As ondas sonoras complexas geradas por um
instrumento musical sempre poderá ser representada por
uma série de Fourier, compostas das nota fundamentais e
da série de harmônicos ou sobretons, cada um com a
sua amplitude e fase. A expressão matemática de
uma onda complexa poderia ter a seguinte forma:
P = sen w t + 1/2 sen 2w t + 1/3 sen 3w t + 1/4
sen 4w t + 1/5 sen 5w t.
A Figura 4 mostra as componentes individuais e o
resultado das somas de todas (P) e da soma de somente os
harmônicos ímpares.
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
Figura 4 –
De cima para baixo, as componentes harmônicas da onda
representada na página anterior. Em a), b), c), d) e e)
temos as componentes individuais, em f) temos todas colocadas
na mesma figura e em g) temos a soma das 5 componentes.
A estrutura de uma onda sonora produzida por um
instrumento pode ser extremamente complexa. Qual seria o tipo
de onda produzido pelas séries abaixo?
P = cos w t + 0,7 cos 2w t + 0,5 cos 3w
t
(5.1)
P = senw t - 0,5sen3w t + 0,33sen5w t –
0,25sen7w
t
(5.2)
Figura 5 - Soma dos harmônicos em fase (preto) e em
fase invertida (vermelho), de acordo com as equações
acima
A fase de uma componente desempenha um papel
importantíssimo na determinação da forma
da onda resultante. Por exemplo, nas expressões abaixo
(vistas na Figura 5) notamos que a fase do terceiro harmônico
da segunda expressão está invertida de 180 graus
em relação à primeira. Observe como a
diferença é notável.
Em geral, exceto por mudança de fases muito
grandes, como foi o caso acima, ou sons muito intensos, a fase
não é muito importante na determinação
da forma da onda.
O espectro sonoro é uma forma de mostrar a
estrutura de uma onda complexa. Ele é capaz de mostrar
quais são as freqüências principais que
constituem um determinado som. Então, ao invés de
um gráfico onde temos a amplitude em função
do tempo, como nas Figuras 4 e 5, teremos um gráfico de
amplitude x freqüência. Um exemplo desse gráfico
espectral pode ser visto na Figura 6.
O que diferencia um instrumento do outro é
exatamente a distribuição de freqüências
e das formas de ondas que vimos nas figuras anteriores. Pode-se
ver no laboratório que instrumentos de corda são,
em geral, bem mais ricos em termos de harmônicos e
possuem a forma de onda mais complexa. Os mais pobres são,
tipicamente, os de percussão e alguns dos metais (a
flauta é o melhor exemplo dos metais, por praticamente
não apresentar termos harmônicos de ordem superior
a 2, quando ela toca uma nota de freqüência igual a
1568 Hz).
Vamos encerrar esta seção comentando
as freqüências fundamentais de ressonância de
diversos instrumentos. Elas são características
de cada instrumento e dependem, como veremos abaixo, das
peculiaridades de cada um. Sistemas acionados por cordas
vibrantes possuem uma freqüência fundamental que
depende da tensão, massa e comprimento da corda.
Figura 6a – Espectro sonoro da
primeira equação dos senos (5.1)
Figura 6b – Espectro sonoro da segunda
equação dos senos (5.2)
Membranas vibrantes e discos metálicos,
típicos de instrumentos de percussão, possuem um
padrão de freqüência fundamental que é
típica e parecida uma com a outra, dependendo também
da tensão e densidade da membrana. Já tubos
sonoros dependem exclusivamente do comprimento da coluna de ar
contida no tubo. A Tabela 3 mostra essa relações
para diversos ressonadores, inclusive tubos de órgãos
metálicos, e a nomenclatura de cada termo. Os termos
referentes aos módulos de Young e razão de
Poisson podem ser encontrados em qualquer livro texto clássico
de Mecânica e oscilações. Os valores são,
por uma questão de concordância, dados no sistema
de unidades CGS.
Tabela 3 – Relação
entre elementos vibradores e suas freqüências de
ressonância
(Adaptado da referência
3)
Elemento
vibrador
|
Frequência
|
Componentes
|
Cordas
|
f = 1/(2l)
(T/r )1/2
|
l =
comprimento da corda
|
|
|
T = tensão
|
|
|
r =
densidade linear
|
Barra
vibrante presa em um das pontas (vibração
transversal)
|
f =
0,5596/l2 (QK2/r )1/2
|
l =
comprimento da barra
|
|
|
Q = módulo
de Young
|
|
|
K =
|
|
|
r =
densidade linear
|
Membranas
esticadas
|
f = 0,382/R
* (T/r )1/2
|
R = raio da
membrana
|
|
|
T = tensão
|
|
|
r =
densidade linear
|
Pratos
circulares presos nas bordas
|
f =
0,467t/R2(Q/r (1-s 2)1/2
|
t =
espessura da placa
|
|
|
R = raio da
placa
|
|
|
r =
densidade linear
|
|
|
s = razão
de Poisson
|
|
|
Q= módulo
de Young
|
Pratos
circulares presos no centro
|
f =
0,193t/R2(Q/r (1-s 2)1/2
|
t =
espessura da placa
|
|
|
R = raio da
placa
|
|
|
r =
densidade linear
|
|
|
s = razão
de Poisson
|
|
|
Q= módulo
de Young
|
Barras
vibrantes (vibração longitudinal)
|
f = 1/(2l)
(Q/r )1/2
|
l =
comprimento da corda
|
|
|
Q = módulo
de Young
|
|
|
r =
densidade linear
|
Órgãos
e tubos
|
f = c/2xl
(aberto)
|
l =
comprimento do tubo
|
|
f = c/4xl
(fechado em um dos lados)
|
c =
velocidade do som
|
|